quinta-feira, 12 de junho de 2008

DOIS HOMENS ABRAÇADOS

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No alto vejo abraçado
um homem a um cristo de pedra:
é um abraço distante
(e eu me pergunto:
o que estava fazendo tão alto?)

Mais perto do homem,
outro homem ao longe,
e tanto que quase não se o vê:
quão distante da pedra tal homem?
E talvez seja dos dois
O que mais esteja abraçado.

O de pedra, homem também é,
e dizem que,
negando essa sua natureza,
não tem um coração assim,
um coração feito do mesmo material
de que se fez o resto do homem.

Dá para confiar em um homem assim:
Um homem que é de pedra,
mas cujo coração, não?
Um homem que se abraça a uma pedra,
e não se dá conta de que
é a um homem que (se) abraça,
e seu coração rejubila-se,
desde que confie na condição pétrea
desse homem de coração mole;
porque se desconfiar do homem,
da real matéria de que é feito,
ou chegará à conclusão de que
o coração Dele é de pedra também,
ou de que, sendo coração como o seu,
é a outro homem que está unido,
a olhos vistos.

Se o tal Homem de pedra
não for tão de pedra assim,
se for mais homem,
o que sentirá
ao toque do outro:
Seu coração amolecerá,
caso seja de pedra,
ou, sendo de outra matéria,
endurecerá,
com essa aproximação,
com esse abraço,
tão justo, afinal?

Haverá pecado em amar?
Em, às vezes, ser um homem de pedra?
Em ter coração mole?
(isso lá é coisa de homem?!)
Em ter o coração duro como pedra?
Em acreditar em outro homem,
mesmo que não creia tanto no material?
Em abraçar uma pedra
em lugar de um homem,
e crer que esse homem compreenderá
seu coração de homem?

Haverá amor no pecado?
Em às vezes amar,
quando se quer tão-só pecar?
Em ter o coração mole
e se deixar levar pelo amor,
quase não gozando o pecado?
Em acreditar no amor de outro homem?
Em crer no valor do pecar
para amolecer a dureza da pedra
que é a matéria do homem?
(só os leitores de Shakespeare
é que crêem no sonho com matéria)
Em crer que pelo amor se pode chegar
Ao Homem?
Em não duvidar de que para se chegar lá
é preciso pecar,
para que isso empreste à pedra do Homem
um coração,
tornando-o digno de se O abraçar?


CHICO VIVAS

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