quinta-feira, 1 de outubro de 2009

POLÍCIA MONTADA





Monto guarda,
À espera da rainha.

Que venha sua majestade!
arrastando seu manto.

Minto!
Ele não se desfia,
nesse desfilo roído,
por mais que seja arrastado,
por mais que há tanto
se venha arrastando essa rainha,
num jogo de salão,
cercada de damas,
em que o tabuleiro é o tempo
e as peças
-bispos, cavalos, peões,
principalmente os peões,
que estes sabem montar-
são acessórios de uma moda que,
contrariando sua própria natureza,
não passa.

Enquanto, passo a passo,
tudo isso se arrasta,
monto guarda,
à espera de um cetro sem centro,
com certas inclinações pendentes,
besuntado de graxa insípida,
inodora,
que inocula...
simplesmente inocula,
freando assim, se o tem,
o caráter do verbo,
transitivamente direto.

E enquanto o cetro não se mostra
num mastro que os ares beijam,
que mal a água salga,
que sustenta velas em sua nudez de pau,
a pique...e corra,
a pique...e nique,
a pique...e paque,
eu monto guarda.

E não me perguntes: coroa?
Não saberia o que responder: menino?
A explicação é que:
que sei eu desse jogo,
que sei de xadrez,
senão de montar guarda?
E tabuleiro, para mim,
são docinhos em quadrados.

E não me perguntes: quadrado?
Eu?
Que sei eu de moda,
se sou tão passageiros?

E já imagino
que isso passe,
que não passe de moda
montar guarda.
E sendo assim,
manto de inverdades,
cetro cravejado de espinhos brilhantes
-e que picam, que espicaçam-
coroa que mal dá tempo,
que desculpa terei
para continuar na espera,
sentinela,
na guarita, querendo,
montar guarda?

Abaixo a república!
Viva a monarquia!
Viva o reino da montagem!

E quando não houver mais guardas a se montar,
todos saberão que menti.


CHICO VIVAS

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