sábado, 1 de agosto de 2009

SURDO-MUDO




Se cochichas ao meu ouvido,
eu me derramo no teu ombro;
se me tomas de frente,
eu, por meu lado, te assombro;
se sopras um cálido hálito na minha nuca,
eu nunca mais deixo de ser vento;
se deixas-me e cruzas teus braços,
desembaraçando-te de mim,
vingo-me com nós,
aperto o cinto,
mas não vou.


Voo(-me) embora de mim,
mas não saio de perto de ti.
Se comunicas à minha boca
uma boa notícia com a tua,
eu não ouço
porque minha língua invertebrada
adormece a esse teu falar,
e se a mordo, não a sinto,
se ferida, não assento,
se sentir, não sou santo,
e isso não assenta em mim,
se, no entanto, for eu a despejar,
do meu idioma direto no teu
as notícias, boas ou más,
e sentir tua língua dormente,
passo por cima como um tanque,
bem devagar, de vagão,
para nunca mais parar,
para sempre sofreres muito.


Se me dizes que me amas,
com olhos em sincera expressão,
se me olhas como chama
a incendiar a razão,
se me ouves com tranquilidade
como a beberes meus monossílabos,
como se fossem de longa duração,
e ainda falas com decisão,
quando em mim rugem dúvidas,
se me abraças,
se me tomas,
se me queres,
então digo-te: não!


Porque no papel posso mentir,
mas na realidade, ficção.



CHICO VIVAS

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