sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

PEDRA DE ESCREVER




Palavras de pedra,
Sílabas rochosas,
Letras em pó
Como uma enorme frase que,
Com o vento,
Que com o mar,
(e sem falar: e com o tempo)
Em areia se tornou.
Mas há o caminho inverso
Que faz do pó da pedra,
Da areia da praia,
De novo concreto castelo,
Mesmo que venha uma onda
e...ah!...
Se ele, contudo, dura, tão mole,
O exato tempo de um sonho:
Dura, então, uma eternidade.
Se um papel, tão mole, dura,
A ponto de se deixar romper
Por uma palavra mais funda,
E se uma pedra,
No começo tão dura,
E logo, à força de um provérbio,
Tão mole que até a água fura,
É porque a lembrança dura.
E cada saudade é como
Uma e(x)cada que se sobe
E, a cada passo, avança
No caminho da memória.
Tudo, porém, pode ser mais simples,
Se se fizer do papel um bloco,
Folhas ao léu
Que aceitam palavras,
Inclusive a palavra (já) dada
De jamais esquecer;
E ainda se se fizer
Da pedra, tão dura, tão sólida,
Um bloco, um monolito,
O papel de tempo
Que se deixa tomar,
Que se deixa corroer -
E não para se perder,
Apenas para ganhar uma forma.
Talvez a forma de uma metáfora.
Mas, aí, já fica comple(x)o demais
Até para mim,
Eu que ex-crevo,
Eu que ex-barro
Eu que ex-mago.
Eu que luto para não ex-quecer.
Fantasia?
Não! Só encantamento:
Ora pela palavra,
Ora pela memória.
Ora pro nobis!
Ora,
Esse mistério que é o tempo,
Esse enigma que é o vento,
Essa ilusão que é
Re-lembrar
Como se se lembrasse de ré,
Olhando-se pelo retrovisor: o quê?
Uma folha de papel
Em que ex-culpi
Todo o xis da questão.



CHICO VIVAS

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