A pressa caminha a minha frente.
Se há vista, a pressa olha em volta
e, de relance, me vê.
Eu sou aquele Aquiles, aquele
em que há pernas, ligeiras há.
Mas por mais que me apresse,
não alcanço a tartaruga-pressa.
E se a alcançasse,
que seria de Zenão?
Se não, daria a Zenão razão.
Esse paradoxo apressa a palavra
e ela não é Aquiles não.
Ela não é a pressa, aquela.
Aquiles de pressa são palavras,
como (o) paradoxo que não se apressa
e divide, indefinidamente, o movimento, o espaço,
para, por mais lenta que caminhe a pressa,
a minha frente,
não a possa ultrapassar,
eu, esse-aquele,
aquele Aquiles que sou.
Mas não devo falar de mim,
nem como este nem como aquele,
embora eu seja aquele
que tem a pressa a sua frente
e não tem pressa de lhe passar a perna,
porque Zenão assim o quis,
porque se não, para que palavras:
esse paradoxo?
Como Aquiles? Como pressa?
Para que palavras?
E mais paradoxo, para quê?
E nem falei da flecha no ar
que em algum momento terá de parar,
e terá de cair;
se não, se não cair,
e no ar parada ficar,
a pressa, que anda devagar,
mas a minha frente sempre está,
mesmo que agora queira correr,
como ela, o que acontecerá?
Se sim, sim.
Se não, paradoxo.
Senão sim, um paradoxo,
mas um de Zenão.
CHICO VIVAS