domingo, 1 de agosto de 2010

CATA DOR DE ALUGUEL





Cato,
Andando,
Amarradas palavras soltas,
Materiais,
Material reciclável,
Sensível,
Sem sentido,
Tátil para
-para!-
Fazer poesia
(e não parei).

Cato ainda,
Andando para quem
Não gosta de me ver assim andar,
Palavras muitas,
Soltas ou não,
Amarrado como estou
A não parar de catá-las.

E não as conto,
E não faço inventário.
Eu só as conto,
Eu só invento palavras
Que há muito já existem.

Se presas, solto-me;
Se altas, não me rebaixo;
Se de outros, fico alheio a isso.

E brigo
Porque,
Indomáveis
(se têm dono eu não sei),
palavras,
soltas ou não,
fazem comigo
o que querem,
até fazendo comigo,
eu que dou uma face,
e ainda dou a outra,
o que significa dizer
que depois de dar as caras,
o (seu) verso também dou,
o que não gostariam
de que eu com elas fizesse.

O que querem de mim essas palavras?
Palavras amassadas,
Palavras sem mossas,
Como moças de cara amassada;
Palavra matéria,
Se alguma é;
Palavras recicláveis,
Se isso não for lixo.

O fato é que cato palavras
E guardo-as
Debaixo da cama,
Deixando-as acamadas,
Como se cumprissem resguardo
Imposto por mim.

Quando se levantam,
Misturo-as ao pó
De outras tantas palavras,
Aos farelos
De outros tantos sentidos.

Estendo tudo sobre o lençol
Na hora exata em que quero dormir,
Como se levasse para cama o alimento do corpo,
Esfarelando palavras na alma,
Como se a poesia fosse um pão
Enorme,
Uma só códea,
Aparentemente infindável,
Por mais que se faça farelos na cama,
Alimentando a alma,
Por mais que se lhe coma,
Alimentando o Pai-Nosso,
De dia sim dia não.

Mas chega uma hora,
Exatamente na hora em que tem de chegar,
Em que pão, para que te quero?
Em que farelos não enchem a mão.
Em que palavras são o que são,
E com isso só poucos
Fazer poesia conseguirão.

E eu,
Mesmo não sendo muito,
Sendo dos muito só um pouco,
Eu não.



CHICO VIVAS

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