terça-feira, 1 de março de 2011

DE ALTO A BAIXO





Frágil é só o forte quando se quebra.

Amar é como uma onda forte quando se quebra.
E se é só,
é como um mar inteiro que se quebra,
lançando alto estilhaços de aço
que desenham no ar formas exóticas,
ganham vida e voam como pássaros estranhos.

A saudade é a dor dessa ave
que do alto olha o mar que se quebrou
e por mais desenhos que faça no ar,
não há sombra sua no mar,
porque o mar é frágil,
apesar de toda a onda que tira
de ser devastador,
de deixar saudade.

Mas nem sempre foi assim.
Só assim é agora.
Só é agora porque se quebrou.

Onde os pássaros de estilhaços,
Estilhaços do aço
Que um dia foi mar?

Onde encontrar um pouso,
se sombra jamais hão de encontrar?

No alto de uma montanha forte,
que não sei como fazer se quebrar,
há uma poça de água cristalina,
água do céu caída,
com a mesma humanidade da chuva,
caída ali sem nunca ter chegado ao mar.

Assim digo, mas bem pode ser
que esse mar, frágil,
um dia tenha chegado lá,
lá no alto da montanha firme e forte,
deixando, como saudade eterna,
uma poça de água,
cristais de saudade
que não seca,
ainda que, tão alta,
mais perto do sol esteja.

Essa poça projeta
uma sombra no sol
e se contenta em ter ido tão alto,
sabendo que mais não virá,
como descer ao nível do mar,
do mar que era forte,
e se quebrou;
que ao se quebrar,
mais frágil ainda ficou;
o mesmo mar que lanço
bem alto seus estilhaços de aço
e que em novas aves se virou.

Cabe mesmo uma poça no mar?
Caberá?
Pode uma poça se apossar do mar,
como crê ter se apossado do sol
só por ali uma sombra de nada deixar?

Amar é como uma poça que é maior que o mar.

Saudade é poça no alto da montanha,
sem nada saber do mar.
Mas com a irresistível sensação
de que se de aço o cristal se tornar,
e se depois o cristal se quebrar,
lançando estilhado na poça de aço
e esses pedaços de aço ganharem o ar,
como os pássaros vão voar?


CHICO VIVAS

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