quinta-feira, 2 de junho de 2011

IH!...EU VI!






Eu? Vou indo!...

Quando vou, vou,

Mesmo se não vou voando.

E ainda quando volto,

Vou,

Porque essa minha volta

É como um “vou indo”,

Só que em sentido contrário:

O que me faz dar voltas no círculo.

E isso me revolta,

Sem, no entanto,

Que eu volte atrás,

Até porque as minhas tentativas

De isso fazer

Deram em nada,

Com aquela re-volta transformada

Numa ida como outra qualquer,

Fazendo dessa minha

(que só por hábito possessivo chamo de minha)

Um ir e vir sem do mesmo ponto sair.

O que eu queria

Era mesmo ir,

Quando fosse,

Fosse isso quando fosse,

Quando estivesse indo,

Ainda que diga “vou indo”

Em momentos em que

Para lugar algum eu voo,

E, na volta, voltaria

De um outro jeito.


CHICO VIVAS

quarta-feira, 1 de junho de 2011

ROUPA DE CAMA



O lençol fino de seda gasta
cobre o corpo lasso e opaco:
o tal pano é tão gasto
que o brilho do lado sedoso
parece emergir direto do corpo
ali deixado
e já tão frio
e já tão gasto
que quase se confunde
com o lençol tecido
com fios emaranhados
das linhas inescritas
das urdiduras inexpressas
das tramas natimortas.

De súbito, um movimento:
mexe-se o pano,
anunciando a estreia,
ou mexe-se o corpo,
dando sinal de vida?

Foi só um vento indiferente
que avançou ao comprido
do pano,
do pano que recobre o corpo,
provocando ondas de seda,
como no panejamento
de um santo em pose clássica,
em êxtase barroco.


Um vento, agora apressado,
levanta o pano
como se olhos bem curiosos
não se contentassem
com o espetáculo à mostra
e à vista do mistério,
invadissem as coxias.

E não é um corpo apenas que jaz
sob a fina coberta de seda:
são dois.
Tão gastos,
tão lassos,
cansados de serem um só.

Ao terceiro sinal,
não o começo que se espera,
mas o fim:
é esperar para (não) ver.




CHICO VIVAS

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