sexta-feira, 1 de julho de 2011

PARA QUEM ANDA NA LINHA


Se tu confias em tua língua,
Eu me fio;
Se na tua enfias a linha,
Confio-me na tua.

A linha é fina, fininha,
Mas se se a olha
Bem de perto, pertinho,
Ver-se-á que não é um fio,
São como várias línguas enroladas,
Enroladinhas,
Uma torre de babel.

Aproximo-o dos olhos, olhinhos,
E com a ponta dos dedos,
Com unha curtinha,
Tento desenvolver a linha,
Separá-la dos vários nós,
Das várias línguas, e desconfio,
E consigo.

O que vejo, então,
É como a língua de uma cobra
Mostrando sua bifurcação:
Mas para quais caminhos?

Lembro-me assim de que um dia
Na tua provei o veneno
Sem desconfiar,
Qual serpente esquecida
Da tua natureza astuta,
E deixei-me, como fio,
Enrolar-me na linha,
Na curva,
Nas parábolas,
E quando chegamos à elipse,
Desconfiei.

Era tarde demais!
Olhei o céu em busca de lua:
Eclipse total.
Restava na minha a memória da tua,
Uma língua feito uma linha
Carregada de nós,
E tantos que se se lhe passar o dedo,
Na língua, na linha, no fio,
Sentir-se-ão os nós
E quase nada de ti.

Mas se esses olhos, que viram
Que a linha é feita
Não de um,
Mas de mais de um fio,
Se aproximarem da língua,
Não conseguirão, assim de pertinho,
Desatar esses nós?

Talvez.

Mas, desfeitos,
Sem mais lembrança de nós,
Será só uma língua que a olhos distantes
É feita dum único fio.
Será só uma língua
Cuja ponta não se bifurca
E não mostra caminhos.

Perdido, perdido,
Nem de Ariadne o fio.


CHICO VIVAS

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