domingo, 1 de janeiro de 2012

O MEU PAPEL NO MUNDO




Remexo velhos papéis...

E sinto, como se eles fosse,

O toque da mão a tocar.

E eu – e é bom lembrar

Que aqui já não sou

O que remexe papéis,

Mas os próprios, mexidos –

Sem poder me encolher

Àquele contato que não sei

Se me quer alçar

De velhos papéis e agora já

Uma nova ideia costurar

Com antiga linha de pensamento,

Ou o que tal mão quererá,

Isso não sei,

Tomando-me,

Lendo-me, talvez,

Reconhecendo letra passada,

Rima desusada,

Motivo adolescente,

Imaturas contradições,

Beijos imaginados,

Outros inimagináveis,

Constatando assim

O amarelado das páginas,

O cinza das horas passadas,

O vermelho costumeiro das paixões,

A palidez do rosto calmo,

O leve rubor da face solitária

No anseio de formar par

E não com uma outra, face sua,

Mas com uma face ainda oculta

E prestes a se revelar.

Não sei se a mão,

Assim então,

Só me tomará,

Sem sequer beber-me, verso a verso,

E sem cuidado mostrar,

Amassando-me,

Fazendo-me de bola

E, incivilizada, pela janela atirar,

Ou, polida, quem sabe,

A já treinada nesse esporte,

O de se desfazer de pretérita ideia,

Jogar-me, acentuando o alvo,

No cesto, no canto do quarto

Do apartamento

Do quinto andar.

Volto, agora, a ser eu mesmo,

E saio daquele lugar,

Lugar em que me pus,

Ocupando o papel dos papéis.

Volto a ter noção do que sou

E de ter controle da minha mão,

Que vai remexendo antiguidades.

Nesse contato, porém,

Um mecanismo dispara,

Acelerando o coração.

E falar dele, aqui,

Não traz boa reputação:

É palavra cansada,

Mesmo que em peito ainda novo;

É rima vulgarizada,

Mesmo que em troncos raros,

Exilados de madeiras nobres;

É palavra absurda,

Mesmo para ouvidos prudentes,

Porque hoje se vendo

Até mesmo a insensatez

Como charme da loucura,

Coroando a lucidez

Que se cobra de cabeças “escuras”

Que hão de se “esclarecer”...um dia.

O primeiro papel que pesca a mão,

E não se tem certeza

Se a mão é a linha que captura

Ou se o que fisga é o papel,

É justamente este aqui,

Este papel que aqui faço.


CHICO VIVAS

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