quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ÁGUA PARA TODOS OS LADOS



Dizia isso tudo por fora,

Mas, por dentro, ria-me;

E ria ainda mais

Ao pensar

Se “ria” não seria,

Palavra que é,

O feminino rio,

E assim, ao sorrir, sorria,

Como se enchesse a boca de mar.

Como, porém, mar e sal,

Não suportando tal paladar:

E cuspo fora o sal, o paladar,

E com ele também sai

De mim o mar.

E já não sorrio,

E fico a me perguntar

Que mistério tem a palavra

Para tanto assim significar.

Quando uma boca,

Tal qual a palavra banal,

Comum à língua diária,

Já por muitas bocas passou,

Ainda fala palavras suas

Ou sua para falar

Uma palavra mais original?

Copia na sua outra boca,

Trazendo os riscos da língua alheia,

Falando palavras que não sente

E até sentindo sinceramente

Palavras que desconhece?

Sei que quando a minha

Encontra enfim a tua,

Minha e tua são só,

Embora já sejam duas,

Dois pronomes possessivos.

Sei que quando a minha

Língua

Roca à toa uma oura,

A tua,

A boca como um rio

E não me dou por satisfeito

Com essa barriga d’água.

E embora nesse instante eu não sorria,

Sou um mar de palavras minhas

Numa baía de ardentes nus.

Já não sou dono de mim,

“Meu” próprio pronome possessivo.

Até meu pronome predileto,

Tu,

Não é possessivo:

É “algo pessoal”

De um “caso” que,

Oblíquo,

Não se curva.

CHICO VIVAS

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