sábado, 1 de março de 2014

COR CÉU




Te vejo a passeio, galopando
Num corcel que eu inventei.
Sigo teus passos a pleno tropel.
Vejo-te seguir em disparada, voando.
Também eu inventei essas tuas asas
E fui eu ainda quem penas te deu.
Colei-as, uma a uma,
Em ti,
Passo a passo,
E soprei-as na direção do céu.
Mas não àquele que se esconde nos ares,
Em outro qualquer que em fogo se expande,
Mesmo que vermelho pareça
A própria cor do inferno:
Esse calor também eu inventei.
A essa altura, altura do céu,
Há de se pensar que apenas imaginei-te
E mais a cavalgada que te dei:
Tudo se dirá que é pura invenção,
Que asas não há,
Que costas não-cola,
Que corcel não atropela.
Afinal, que passeio lá fora?
Hão de dizer
Que no ar não soprei
O que no teu ouvido sussurrei,
Que não voei para o fogo
Desse inferno que eu mesmo criei:
É vermelho -e isso me basta!
Inventei-o também.
Criando-me, inventei
Colas que ao cavalo preguei,
Asas que no corcel colei,
Vôos que nunca no céu experimentei,
Rubra cor em que jamais me queimarei.
Se me der, depois,
Depois de tanto que inventei,
Um céu que seja acima
Ou um corcel que sai galopando,
Um inferno que queime ardente
Ou asas que saiam voando,
Nada disso quererei.
Só quero mais uma vez inventar
Uma pena que (me) escreva em cores
E que (me) pinte asas dos meus amores,
Que desenhe num corcel ardores
E lance ao ar meus clamores
(que não passam dos meus gritos calados).



CHICO VIVAS

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