segunda-feira, 1 de setembro de 2014

DIZER NEM POSSO IMAGINAR



Há palavras que, sinceramente, não digo:
E nunca jamais será uma delas.
Mas basta a musa à frente,
Atrás a musa basta estar,
Para a língua tremer,
O pensamento vacilar,
E as palavras todas
Desejarem sair.
Nunca! digo,
Mas de nada isso adianta,
E jamais vai adiantar.
Acabo por dizê-las
E, convicto agora do que digo,
Digo-as sem convicção,
A ponto dos meus maxilares se ressentirem
Com tanta palavra que digo,
Sentindo dor inaudita
Que, apesar do incomum,
Não inaugura inédita dor;
E eles se sentem assim
Por terem de se conformar,
Conformados, à forma
Desse meu estranho dizer.
Não posso parar,
Mesmo se quero,
E com isso quero mesmo dizer
Que não posso,
Por mais que deseje parar,
Por mais que essa musa
Não me inspire confiança.
Creio até que não é ela
Que me solta a língua presa,
É esta mesma que se desenrola,
Que inventa uma musa tesa,
Hierática,
Soberba,
Ora salobra,
O que me parece ser
Mais uma manobra da língua,
Ora língua doce,
E doce ser me parece,
Embora a outro possa parecer
Uma insípida língua torpe.
As palavras reveladas
Escondem mais do que revelam,
E nesse esconder-se,
Nem as musas sei quem são.
Talvez sejam negativos a serem revelados,
Talvez, positivamente,
Não passem de um clichê
Já amarelado,
Seja por ter sido usado tanto,
Passado por tantas mãos,
E isso sem falar das muitas línguas
Pelas quais deve ter passado a musa,
Seja por ter há muito entrado em desuso,
Francamente.
Marginal de mim mesmo,
Sempre à beira dos meus penhascos,
Sem jamais me precipitar,
Apesar da respiração da musa na minha nuca,
Incentivando-me a desabar,
Sou apenas circunstancial em meus acasos,
Definitivo em minhas passagens,
Hesitante na minha firmeza
E firme na minha fraqueza.
E pela fraqueza dos versos passageiros,
Vê-se já quão firme sou.
Circunstancialmente apalavrado,
Eternamente verse já dor.
(mas isso é passageiro!)



CHICO VIVAS


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