quarta-feira, 1 de julho de 2015

JARDIM SABIDO DE COR



A rosa avemelhou
e chamou a atenção da abelha
que voou até a rosa
e em torno dela olhou,
olhou sem pausa qualquer,
nem mesmo parou de as asas bater,
enquanto olhava olhava,
sem se dar tempo para inspirar
uma única vírgula sequer.


Foi-se a abelha embora,
sem com a rosa copular,
e se agora um espinho nascer,
de quem esse filho da rosa será?


Veio uma mão em torno da rosa
e não pensou em com ela copular;
queria só arrancá-la ao seu solo,
àquela espera de abelhas sem pausa.
Agarrou-a pelo espinho;
feriu-se;
e tornou-se assim, a mão,
o pai de sangue
do filho da rosa sem mãe.


E a abelha, um dia,
picará o nariz do pai,
deixando-o inchado
e, como a rosa vermelho
e ele ainda quererá, mais velho,
dar cambalhotas, fazer rir
para manter sua natureza original
sob o teto de lona furada
e chão coberto de lama,
cheio de buracos de vida mambembe.
E ninguém irá se lembrar
de um dia lhe atirar
da platéia, sentado em tábuas nuas,
uma rosa sequer.


Mas em meio a tantos buracos,
como estrelas à lona colados,
passará voando uma abelha
procurando a rosa para copular.
Não achando pétalas vermelhas,
seu ferrão em um nariz se cravará
e o nariz que é rubro, postiço,
essa cor perderá:
tornar-se-á pálido como do palhaço
antes do espetáculo começar.



CHICO VIVAS

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