domingo, 1 de fevereiro de 2015

SE ARREPENDIMENTO MATASSE...


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Se eu lhe der a mão,
você talvez me dê a sua:
e o que farei com três mãos?
Se eu lhe piscar um olho,
é possível que você sorria:
então vou precisar de uma mão,
porque não saberei o que falar,
e para esconder esse meu não-saber,
também eu vou querer sorrir;
e se com isso, em resposta,
você um olho me piscar,
os meus hão de se desviar,
e meu sorriso se contorcerá
em esgares indefinidos,
e minha mão, a essa altura,
por bolsos esquecidos procurará,
e não os há-de achar;
tentarei, à força, abrir
um falso bolso na roupa sem vincos.
Ponho as mãos na cabeça,
sem decidir o que fazer.

Por que é que fui sorrir?
Por que lhe estendi a mão?
Por que pisquei um olho?
-e deste posso dizer
que, absolutamente, não o pisquei,
foi somente um cisco, uma poeira.
Diante de tal desculpa,
você de novo sorrirá,
desmascarando o meu fingir
e aí, desnudado,
decididamente sem bolsos,
onde essas minhas mãos ocultar?

Cruzarei-as nas costas
e com elas não me preocuparei mais.

Os olhos semicerrados
já por si não são preocupação.

Nisso tudo só lamento
perder de vista seu sorriso,
nem tanto pelos meus olhos pouco abertos,
mas pela sua boca ocupada
por mim,
num beijo.

E assim tão de repente,
como que por encanto,
já sei tudo o que devo fazer.


CHICO VIVAS

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