quinta-feira, 1 de abril de 2010

AQUI ENTRE NÓS



Mesmo sem bússola
Norte é norte.

No norte, festa do sol,
No sul, só os sós
Fugindo do sol,
Sem norte,
Tendo por bússola sua solidão.
E não querem o dia,
Não esperam que ele nasça.
Para eles, melhor a noite toda,
Prolongando-se dia afora
Para esconder os sós deles próprios,
E que é como esconder o sol
Com as próprias mãos como peneira.

Em pleno sol, os sós fogem de si,
Mas se multiplicam, escondidos, à noite.
Apesar deles, que são muito,
É improvável que o sol não nasça,
Da mesma forma que é impossível
Que não surjam mais sós.

Se se sopra no olho o sol,
Só, com isso, aumenta-se a luz do dia;
Se se sopra um só,
E ele é todo olhos,
O que acontece?
No sul, ele adormece,
No norte, a bússola entontece
E já não mais indica,
Com sua costumada segurança,
O caminho certo a seguir.

O mundo não pode prescindir dos sós,
Como não pode viver sem sol;
E embora plural os sós,
Onde outros sóis?

Se se acorda ternamente
O sol numa cama de palha,
Ela queima;
Se é um só que se deita aí,
Nessa cama tão-só,
Aí, é ele quem arde,
E a palha, mesmo seca,
Nega fogo,
Afoga seus olhos
E emudece:
E em palha molhada,
Com todo o sal,
Nem mesmo um sol deitado,
Ateia labaredas.

Se se dão graças aos céus
Por mais um dia de sol,
O que se dá a um só?
Se se lhe dão graças, é patético.
Se se lhe fazem versos, poético.
Se se o confunde com um sol, cético.

Não há esperança pra os sós:
Há de vir, renascido, o sol
Afugentá-lo do dia,
Empurrando com suas horas
Para as tarefas coletivas,
Comunitárias.

Por que são assim os sós?
Porque sim. Porque são assim.

Quando, enfim, cansado do dia,
Não eles, sós, mas o sol, um só,
Ele se for,
É hora dos sós saírem,
De saírem todos juntos,
Mas jamais fazendo companhia
Uns aos outros:
Jamais!
Jamais!
Jamais!

Jamais um bando de sóis dará as caras.
Já de sós...
Todos sós...
Mesmo em bando...

Enquanto a noite passa,
O dia os dispersa.


CHICO VIVAS

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