domingo, 7 de fevereiro de 2010

hINOMINÁVEL



Dize-me, ó mar!...
E quantos outros antes,
neste mundo, num canto,
já não estiveram a te perguntar,
ó mar!
Dize-me, então,
no canto que me põe entre tantos,
quantos não sei contar,
dize-me, ó mar,
por que hesito em perguntar,
e faço voltas, indo,
e volto para cá?
É de revoltar, ó mar!
Em vez de, dize-me logo,
do canto onde de encontro,
dúvidas te atirar, ó mar?


Garrafas não tenho à mão,
bebidas amargam-me a boca,
ó mar!
Escritos, todos os amargos doces (me) parecem
como o amar um dia doce,
amarga ter de cair no mar,
nesse pranto em ondas,
nesse prato (cheio) salgado
em que o nosso mar em gotas,
lágrimas hoje de um recuado amar,
caem e, dize-me como, ó mar,
desaparecem entre outras,
sendo tu o mesmo mar
(pelo menos aos nossos olhos).
Como pode sumir assim
o que ao olhar era sem fim
como agora, ó mar, é mar
aquele amar que era sólido,
hoje liquefeito no ar?


Dize-me, ó mar:
até quando poderás suportar
que te lancem garrafas plásticas,
como um fixo olhar
sobre ti a se deitar,
deixando-se ir, fazendo-se levar,
tal qual, esses olhos que boiam,
envelopes abertos a comunicar
a dúvida desse dizimar?


Porque não se devasta mar.
Pode-se talvez dizimar,
e se isso acontece,
por mais que eu pergunte,
o que mais dizes, ó mar?
E amar, dize-me, ó mar,
que ainda dizimando-não,
amar pode ser devastado-sim
como mata fechada em que
todo caminho se crê conhecer
e um dia, picada e picada,
a mata, aberta a tantos caminhos,
é só um caminho aberto,
mas fechado ao mar
e amar, ó mar, dize-me,
é possível "ele" dizimar,
como se, palavra a palavra,
todas feitas de papel,
enxugassem, sílaba a sílaba,
esse monossilábico mar?


Tão ele uma sílaba só,
esse mar monossilábico
que, salvo ondas de cochicho,
esse vaivém a murmurar,
silencia,
silencias, ó mar.
Quando, dize-me ó mar,
pergunto-te,
por que só respostas no ar?
Será, ó mar, que baixei os olhos,
e deveria esses olhos elevar,
porque eleva-dor
e subir no conceito do céu,
pois se existe - existe céu, ó mar?-
deve ser para nos ouvir,
embora, como tu, ó mar,
por mais que lhe pergunte, ó céus,
só me dizes: mar!


Deste ao céu.
Deste ao mar.
E eu sempre no meio.
E quem resolve, revoltado,
a questão do amar que um dia água,
dia seguinte, vinho,
terceira noite, céu,
e quarto - de dia ou de noite - mar
e ainda no outro - noite ou dia -,
dizimar:
dize-me, ó mar!


Sei que tropeço na língua,
e grande até que ela não é.
Será que te calas, ó mar,
porque tantos, entre tantos como eu,
vêm te perguntar,
e dar respostas a todos
poderia te valer - de que isso te valerá? -
ser conhecido, ó mar,
como um língua-comprida?
Mas, ó mar, dize-me
(antes dizimar),
se o que pergunto não é
o que, entre tantos, outros
vêm sempre te perguntar.
Assim, dize-me,
se me respondes, ó mar,
não respondes a todos
que um dia, amar,
outro, dizimar,
outro ainda, céu calado,
e mais um, silencioso mar.
Assim, dize-me
se não sou o primeiro a te perguntar
e se respostas aceitaste dar
para pergunta, ó mar,
que te faço, dize-me,
a resposta já não está no ar?


Mas onde, ó mar?
no ar que é o ceu,
nesse seu ar de mar,
ou entre ti, ó mar e,
dize-me, ó céu,
nesse espaço de ar
em que se garrafas são jogadas,
no chão vão-se espatifar;
se perguntas recebem,
respostas ficam no ar;
se mensagens são enviadas,
é um disse-me-disse.
Preciso saber, ó mar.
Portanto, dize-me,
antes dizimar um amor
quando o amor ainda está no ar
para que, um dia, dize-me,
este mesmo amor não vá
parar nas móveis ondas no mar,
ó mar,
em ti,
esse amar?


Ou será melhor um amor,
por mais que haja cacos no ar,
porque no (nosso) céu
esses cacos, garrafas partidas,
quando pisadas, não doem
(mas quando caímos do céu...
mas quando perdemos o ar...
mas quando temos de, ó mar
mergulhar
para nunca mais...),
do que correr o risco
de dizimar antes da hora,
saindo antes da última palavra,
chegando cedo demais ao mar,
para aí as lágrimas lançar,
pergunto-te, entre soluços, ó mar,
por quê?
por quê?
por quê?
sem perceber que, lágrimas em ti,
agora elas são o próprio mar,
ao querer, eu, que digas, ó mar,
quando a elas agora
é que deveria perguntar.


Porém, se em ti, fora de mim,
tão vasto mar,
essa resposta não há,
dize-me, ó mar,
será mesmo em mim
que hei de a encontrar?!
Não - se a mata devo devastar,
não - se o mar posso dizimar,
não - se o céu é-me permitido importunar,
até chorar, até calar,
até beber,
até ferir os pés nos cacos,
até à vista, ó mar
ou há outra solução para viver,
dize-me, ó mar?


Ah! mar, dize-me,
por que o amor,
esse deus com cara de anjo,
está sempre a cobrar
seu dízimo, dize-me, ó mar,
a intervalo regular.
E cobra!
E quer, em troca, esse amor,
que nele se acredite,
mesmo que só dê as caras
com sua diáfana face de ar,
com sua inapreensibilidade de mar,
com foro privilegiado, no céu,
difícil de se alcançar;
talvez, dize-me, ó mar,
tão alto assim para que
não possamos mesmo reclamar,
restantdo somente ao ar lançar
nossas dúvidas, ó mar,
que se perdem em meio a outras histórias...


E há, vê isso, ó mar,
que o amar é capaz de deixar
qualquer um em estado de graça,
com olhos que veem anjos
onde só aves há,
que veem certezas
onde, não restam dúvidas,
só dúvidas...é que há;
com olhos que veem beleza
onde já se é belo
e enxergam ainda belo
onde beleza não há;
com olhos que veem eternidade
onde tudo é com data marcada;
que veem mar
onde só olhos há;
com olhos que chegam a ver
olhos...
e chama a isso que vê de mar
e quer aí entrar,
nesses olhos mergulharem,
quase a morrerem,
Depois voltar à tona sem fôlego
para a boca beijar
e ter certeza de que
tudo o que esses olhos viram,
por mais que outros digam
que não é bem assim,
que é ilusão do amar,
é, digo-te, ó mar,
a mais pura verdade.
E, mar, dize-me,
tu que recolhes tanto olhar,
se há verdade que seja pura.
Dize-me, ó mar,
se só há um de ti
ou se há outro possível a...mar.
Se só este em mim
ou se há outro de mim
ou se devo tudo isso deixar para lá.
Se há outro, se este outro
é igual, como sou "eu" e "mim",
ou se havendo outro,
haverá de mim outro eu
ou se somos todos iguais,
variando apenas a posição
frente ao mar, dize-me:
um que ali lança perguntas,
outro que, perfumado, com "esse ar",
lança um olhar
para a superfície, dize-me, do mar.
em busca do quem ora boia,
sem saber que este é náufrago
que acaba de se salvar,
que foi ao mar para morrer
e, no fundo das águas, sem querer,
suas próprias lágrimas foi encontrar,
e nelas achou a resposta,
e voltou, quase sem ar, à vida,
desejando senão, dize-me, mar,
dizer ao amar, ó mar, preciso de tempo,
mas, fisgado por aquele olhar na praia,
pescador de profissão,
que não sabe fazer outra coisa se não olhar,
esqueceu do que dizem do mar
e antes mesmo de sair das águas,
voltou, te digo, ó mar,
a amar.


O que será dele agora, ó mar?
Dize-me, se esse novo amar
é um velho hábito humano
para fazer rir o deus
ou se é a novidade que existe
em viver a perguntar,
a encontrar respostas em si,
a beber e a atirar as garrafas no mar,
esquecendo-se de nelas encerrar
uma mensagem que poderá
conter a resposta achada
e por tantos outros desejada,
ou a "própria" pergunta,
mais uma a encher o mar de dúvidas,
de garrafas,
de amar(es),
de hojes eternos
que ficam ontem antes da hora,
do sonho de um amanhã encontrar,
mesmo que se diga, ó mar,
que ainda é muito cedo
para insistir no erro de viver,
para descobrir o acerto de amar,
para perceber que a solução
para todas as perguntas
estão, antes de no mar,
em como se as perguntar.
Não é: ainda amar?
Pode ser: já?!
Mesmo que isso não queira dizer
amar já,
para não amargar o doce
quando a língua ainda não se lambuzou
de todo o fel,
que como todo mel,
é para ser bebido,
mas não direto na garrafa,
e sim a colheradas.
Quantas, aliás, dize-me, ó mar,
são necessárias para ti,
não para ti, que não precisas nada beber,
mas para te conter?


Sei só que a mesma quantidade
de mel que faz um amor encantado
é igual, sem tirar nem pôr,
à de fel para o mesmo amor,
quando se lança, junto com o olhar,
o encanto todo no mar.


Dize-me, ó mar: amar?
Se sim, quando mel,
doce água do mar,
te deixas encantar, levado por sereias
se não, quando fel,
sal de amargar,
onde lanças com teus olhos, ó mar,
o desencanto do teu amar?


Ah! e eu aqui
(junto comigo, outros tantos
que, diferentes de mim,
não fazem perguntas ao mar)
a invocar-te, ó mar,
a repetir esse "dize-me",
a querer respostas: quem as tem?
Respostas que não preciso para mim,
e não pela falta de fel,
mas pelo pouco desejo de mel.


Talvez, ó mar, eu só esteja
insistentemente a te perguntar
para a outros resposta dar.
Mas, dize-me, ó mar,
a resposta é a mesma?
A pergunta é sempre igual?
Os anjos têm cara de deus?
E, meu Deus!, que cara tens, ó mar?
Será cara de poucos amigos já,
por eu estar aqui só a falar,
sem ao menos dar-te tempo
de, tendo a resposta, me a dar,
já que não podes,
pela natureza que tens, ó mar,
dar de costas,
fazer de conta
tudo o que nós, digo-te, mar,
sabemos tão bem fazer?
Damos de costas, fazendo de conta
que olhamos na cara, com cara de anjo.
Talvez o segredo seja não "te olhar",
ó mar!
Mas, dize-me se for assim,
em nós nenhuma certeza encontrar.


E nada dizes-me, mar!...


E assim continuarei,
vida afora,
a te perguntar.


Dize-me, ó mar!



CHICO VIVAS

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

HAMLET DE OUTLET



O que soo

Se C ou não ser

Não é,

Seja isso o que for?

Se ser não E

E ser ou não ser

Soa assim

Como se não fosse,

Apesar de ser o que é?

Se sou,

E se isso soa a ser

Ou não C é

Ou, então, não, sô?

Sim, senhor, eu sou

O que suo,

Embora isso não seja C.

Se não suar,

Serei

Ou dirão que não,

Porque assim não soo

Ao que pretendo ser?

E se soar,

Num assesoir

Que não é sentar,

Que também não é C, tá!,

Um acetato que não se toca,

Ser rei

Ou errei ao C,

Isso ao cubo?

Dados postos,

Jogador de lado,

De qualquer dos seis,

Isto soa a jogo

De palavras suadas,

De palavras sem C,

De um C que não é,

De um E que só é

Se, acentuado,

For ser.

Forcei a mão

Como um Deus que joga dados.

Deus, sei que não sou.

Deus não sua,

Embora tudo soe a Ele

Como soi acontecer.

Se soo perdeu o acento,

Num jogo-de-cadeiras,

Perdendo o rebolado,

Com É não.

É ainda tem seu lugar,

Mesmo que,

E devemos lhe tirar o chapéu,

Quando circunflexo,

Circunspecto,

Fechado e conspícuo,

Ê ê ê ê!...

Sou, vá lá!

E isso é o quê?

O quê, sabe-se,

Não E,

Não C,

Não é o que parece ser,

Sendo o quê que é.

Se ser ou não ser é,

Tanto faz ser, que E,

Quanto não,

Que isso ainda é.

Se não for, vá lá!

Se for, é só ser.

Suado já,

Meu C (apenas um C)

Não é mais aquilo que foi,

Anda pondo manguinhas de fora,

Sem manter, entre as pernas,

Seu rabinho preso,

Soltando-o mesmo,

Como um S,

Como se,

Se sentindo como se fosse,

Não fosse o que é.

Cada qual seja o que for.

Cada um na sua.

Cada um sabe o que E.

Cada qual no seu ser.

Todos em si.

E só eu mesmo no ar


CHICO VIVAS

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