segunda-feira, 1 de agosto de 2011

NAS ASAS DO CONDOR



Como ser um poeta sem dor?
Como sê-lo sem a própria dor,
mesmo que fale de outra, ‘alheiador’?

E não te preocupes tanto assim,
Que não hei de mais ainda perguntar:
O que é ser poeta
Sem ser (um) sonhador?
Como ser poeta e dormir à noite
E, assim, sonhar com coisas do dia?

Ser poeta não será - não sei -
Dormir de dia e assim sonhar
Com os espectros que fazem do dia
O que só o brilho confuso da noite
Consegue iluminar
Sem de todo revelar?

Dormir à noite é sonhar
Com a unha comprida do dedo do pé
E que se se esqueceu de cortar
(mas que sonho comprido!)
e acordar desejando cortá-la.
Dormir de dia é ser poeta,
É sonhar que não se tem unhas,
Que nem dedos se tem
Ou que no lugar das unhas há dedos,
E no lugar dos dedos, o que há?

Ser poeta é acordar ainda de dia,
Desse sono dormido com sol,
E querer já ter a resposta
Para o que no lugar dos dedos deveria haver;
É anda arriscar isso, tentar aquilo,
Mas não como quem busca a verdade,
E sim como quem ensaia escrever um poema
E erra.

Não um poema sobre unhas nem sobre dedos,
Nem mesmo sobre o que é ser poeta.
Escrever um poema que erre
E que acerte
Ou escrever um que acerte sempre,
Mas que ninguém gostará de ler.



CHICO VIVAS

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails

Arquivo do blog