
Afundei a mão num saco
E encontrei o saco vazio.
Todo vazio é como um saco
Que mão alguma alcança.
Fiz desse vazio um saco
E nele me afundei.
Lá não havia um saco,
Mas uma mão vazia
Que procurava por um saco,
E que achou-o nesse vazio,
E que fechou-o.
Eu, lá dentro, naquele vazio,
Onde quer que pusesse a mão,
Nenhuma outra encontrava.
Acomodei-me ao saco,
E tanto que já agora
Sinto-me de sua matéria um igual,
Podendo ser um saco em que
Se uma mão afundar,
Só irá encontrar um vazio,
Podendo ainda ser o próprio vazio
Em que se uma mão se aventurar,
Não encontrará nem um saco.
Saco e vazio:
Por que, me pergunto,
Uma mão vazia não me leva,
Tomando-me por um saco vazio?
Acomodei-me à espera,
E o que alcancei foi só
Desesperanças a mancheias.
Sorte delas estarem assim!
Porque esperança é como meter a mão
Num grande saco vazio
E esperar por outra mão,
Uma dessas que cheias estão.
Temo apenas que querendo depor
Por um instante o desespero da mão,
Elas tomem o primeiro saco
E o encha com aquilo
Que agora faz a mão vazia.
Eu, portanto,
Tão vazio até então,
Ficarei cheio até a boca
Com a desesperança daquelas mãos,
E assim serei maior como saco
E infinito como vazio.
CHICO VIVAS