
A amante do rei morreu:
Viva a amante do rei!
E correi para avisar,
Rapidamente,
Às outras amantes
Que o rei vivo está,
Que ele não morreu,
Que sequer morria de amores
Pela amante que acaba de morrer.
Errei, talvez, ao dizer:
Que viva!
Que viva a amante do rei,
Já que foi ela que morreu,
E o rei, como se sabe já,
Bem vivo está.
Mais uma amante se vai,
Saindo com toda discrição,
Como convém, se não às amantes,
À amante do rei.
E sai assim, discretamente,
Quem com pompa viveu,
Mesmo não sendo rainha,
Mas, eventualmente,
Sendo mais que o próprio rei.
O fato, porém, é que ele vive,
Vivo está para as outras amantes,
Enquanto que ela, rainha por um dia,
Mesmo que por vários,
Morreu.
Viva Jeanne!
Viva ou morta.
Viva Jeanne-Antoinette,
Nunca, em vida, uma morta-viva,
Mas agora morta.
Viva ela!
Marquesa de Pompadour,
Madame Rococó,
Amiga de Voltaire,
E amante do rei,
Que vivo está
Para ter amantes
A seu bel-prazer.
Ontem, os salões;
Hoje, a tumba:
Será que o esquecimento virá?
Não será isso o tal sono eterno,
Embora digam que dormir bem,
Querendo dizer muito dormir,
À memória faz bem?
Toda tumba é um salão
Em fim de festa.
Velas apagadas, sol eternamente dormente
E que jamais de novo nascerá.
O rei, este vivo está
E há de outra amante tomar:
É “de riguer!"
Mas, e a rainha:
Que é de Maria?
Afinal, há tantas Marias
E bem mais que rainhas;
E houve, escutem, muitas rainhas Marias.
D’Etiole madame,
Etoile Jeanne.
Ah! há tantas amantes!
Algumas são Maria
E até são bem mais que rainhas.
Para a rainha, o olvido
(e que nenhuma me ouça).
Da amante, o estilo.
Em reis, já quinze Luíses:
Du Barry.
Viva!
CHICO VIVAS