sábado, 1 de agosto de 2015

O HOMEM E WOMAN




A velha mulher sem idade aparente,
rodeada por saias de parcas rendas,
sentada sobre suas carnes fartas
é a mesma mulher tão jovem,
marcada já por idade incerta.

Suas rendas continuam poucas,
sentada em suas carnes parcas.

Que faz o tempo com essa mulher
que ganha tão pouco para se ver
rodeada por rendas bem fartas
em suas largas saias rodadas?
E sua carne enigma é,
ora fartas na mulher sem idade,
ora poucas na jovem aparente.

O que faz tal mulher com seu tempo,
sentada sobre a juventude tão parca,
rodeada de lembranças rendadas,
numa idade de aparência bem farta?

Ela mexe as carnes incertas
em movimentos de saias rodadas;
ela mexe nos bolsos da saia
em busca da renda tão parca.

Lá, a mulher já incerta
não acha o tempo rodado,
apenas uma ou outra idade
escondida entre suas carnes rendadas.

Frita a mulher tão incerta
suas carnes aos olhos do sol,
escurece sua pele escura
e clareia com óleos tão fartos.

Frita a mulher aparente
suas carnes em óleo escuro,
clareando seus olhos ao sol
em contraste com as saias rendadas.

O sol escurece e os óleos se fecham
e a mulher de claros rodeada
sacode suas carnes dobradas
e espanta a idade rendada
do rosto que em olhos escurece.

Remexe ainda, como uma jovem idade,
a mulher de incerta aparência
suas carnes em olhos dobrados,
alisando suas saias tão fartas
sem ter nos bolsos rendas rodadas
e só o troco que o tempo lhe dá
por permanecer sob o sol,
escurecendo a olhos vistos,
avistando idade já farta.

Levanta-se e sacode-se toda
e deixa cair uma renda incerta
de um bolso não de todo aparente
na saia de rendas tão claras,
apesar dos óleos escuros
e dos claros olhos sob os quais
frita sua carne cansada,
sentada nas dobras rodadas
do tempo que ao fim só lhe dá,
como renda,
idade dobrada.

Longe já vai a jovem cansada
que é a mesma mulher aparente.

Logo virá a mulher já dobrada
que é a mesma jovem rodada.

As saias são outras, bem claras;
as dobras, as mesmas, gomadas;
o dia sob o sol aos óleos;
o tempo a cada dia nos olhos.

A carne escura em contraste
com o tempo sob o sol bem claro.
As rendas tão parcas em contraste
com os olhos do dia já fartos.

Mas é preciso viver
com a idade que se tem,
aparentando ser uma velha mulher
ou parecendo uma jovem marcada.

Enquanto houver olhos,
enquanto sol claro houver,
enquanto carnes fartas no óleo,
enquanto rendas não tiver
o bastante para ir cansada,
longe do dia dobrado
e adiar o logo rodado
que faz levantar-se rendada
e pronta, alisando as saias
como se as mãos fossem ferros esquentados,
vincando onde deve ficar,
alisando sem tempo apressado.

As rendas da mulher não aumentam
e ela é a mesma mulher sentada.

As carnes da mulher são dobradas´
e é a mesma carne da mulher rodada
pelo tempo que frita
aos olhos do sol,
dia a dia, sob a idade
sem qualquer saia aparente.


CHICO VIVAS

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